segunda-feira, 21 de março de 2022

Aula de Língua Portuguesa (22/03) - leitura e interpretação de texto (crônica) & revisão classes gramaticais.

 

                CRÔNICA: FESTA DE ANIVERSÁRIO - FERNANDO SABINO.





     Leonora chegou-se para mim, a carinha mais limpa deste mundo:

      - Engoli uma tampa de Coca-Cola. 

        Levantei as mãos para o céu: mais esta, agora! Era uma festa de aniversário, o aniversário dela própria, que completava seis anos de idade. Convoquei imediatamente a família:

     - Disse que engoliu uma tampa de Coca-Cola.

        A mãe, os tios, os avós, todos a cercavam, nervosos e inquietos.

      - Abra a boca, minha filha. Agora não adianta: já engoliu. Deve ter arranhado. Mas engoliu como? Quem é que engole uma tampa de Coca-Cola?  Pode ter ficado na garganta - urgia que déssemos uma providência, não ficássemos ali, feito idiotas. Tomei-a ao colo: -- Vem cá, minha filhinha, conta só para mim. Você engoliu coisa nenhuma, não é isso mesmo?

- Engoli sim, papai - ela afirmava com decisão. Consultei o tio, baixinho:

- O que é que você acha?

 Ele foi buscar uma tampa de garrafa, separou a cortiça do metal:

- O que você engoliu: isto... ou isto?

- Cuidado que ela engole outra -- adverti.

- Isto - e ela apontou com firmeza a parte de metal.

  Não tinha dúvida: Pronto-Socorro. Dispus-me a carregá-la, mas alguém sugeriu que era melhor que ela fosse andando: auxiliava a digestão.

No hospital, o médico limitou-se a apalpar-lhe a barriguinha, cético:

- Dói aqui, minha filha?

Quando falamos em radiografia, revelou-nos que o aparelho estava com defeito: só no Pronto-Socorro da cidade.

Batemos para o Pronto-Socorro da cidade. Outro médico nos atendeu com solicitude.

- Vamos já ver isto.

 Tirada a chapa, ficamos aguardando ansiosos a revelação. Em pouco o médico regressava:

- Engoliu foi a garrafa.

- A garrafa?! - exclamei. Mas era uma gracinha dele, cujo espírito passava ao largo da minha aflição: eu não estava para graças. Uma tampa de garrafa! Certamente precisaria operar -- não haveria de sair por si mesma.

O médico pôs-se a rir de mim:

- Não engoliu coisa nenhuma. O senhor pode ir descansado.

- Engoli - afirmou a menininha.

Voltei-me para ela:

- Como é que você ainda insiste, minha filha?

- Que eu engoli, engoli.

-Pensa que engoliu -- emendei.

- Isso acontece - sorriu o médico - até com gente grande. Aqui já teve um guarda que pensou ter engolido o apito.

-Pois eu engoli mesmo - comentou ela, intransigente.

Você não pode ter engolido -- arrematei, já impaciente. -- Quer saber mais que o médico?

- Quero. Eu engoli, e depois desengoli -- esclareceu ela.

  Nada mais havendo a fazer, engoli em seco, despedi-me do médico e bati em retirada com toda a comitiva. 

Crônica: Festa de aniversário

Quadrante. Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1962.


Entendendo a crônica:


01 – Qual é o conteúdo desta crônica?


02 – Por que ela é considerada uma crônica?


03 – Como em todo texto narrativo, tem alguém que conta a história. Quem é o narrador deste texto?


04 – Quem são as personagens do texto?


05 – Qual o fato que se narra nesse texto?


2. Exercícios de revisão no livro de Língua Portuguesa, páginas 10 e 11.

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